sábado, 31 de agosto de 2013

Não é brincadeira! (parte 016)


Da série "escola não é brincadeira":



(Prof. Mahll, você me deprime!)



Fim de semana não combina com caos.








sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Mudança




         Para quê eu ensino Matemática?
         Os meus alunos sempre perguntam “para quê serve isso”, “para quê serve aquilo”, e eu me safo com “bons” exemplos práticos tentando mostrar a aplicabilidade de um e outro conteúdo. Mas eu sei que isso é bobagem. Tudo isso é bobagem.
         De maneira realista, a Escola não consegue explicar onde e como cada elemento ensinado é utilizado. Vivemos na Era da Tecnologia e da Informação e, no entanto, os alunos são obrigados a ficarem sentados numa cadeira por 4 ou 5 horas (com um pequenino intervalo) passivos e receptivos apenas das informações que ofertamos. Não podem usar os Celulares (pelos quais eles são dependentes e apaixonados), o acesso à internet é restrito às aulas de informática (quando a escola tem computadores para tal), e qualquer “trabalho” ou “avaliação” que saia do script causa uma tremenda dor de cabeça.
         Por essas razões, e por outras 1 milhão mais, estudar não rima com prazer, com descoberta e com absorção de conhecimentos efetivos. Conhecimentos que realmente modifiquem a realidade. Uma pena.
        Sempre tento dinamizar as aulas que dou, tento tira-los da sala de aula (apesar do caos e da bagunça de alguns alunos) e indago-me sobre como fazer essa ou aquela aula ficar mais interessante. É difícil, custa tempo e dedicação, e o resultado nem sempre é positivo e satisfatório. E esse é o custo, aliás, de precisar lecionar em duas escolas para complementar a renda no final do mês (realidade também de muitos colegas professores, médicos e policiais). Uma pena, parte 2.
         Nem as escolas (públicas e privadas), nem os alunos e nem os  professores (especialmente estes) estão preparados para qualquer mudança. Isso é fato. Mas ela é extremamente necessária. Outro fato.
         Na teoria, modificar o modo de dar aulas é uma ótima ideia. Na teoria. Pois na prática, efetivamente, tudo é extenuante e frustrante. Por isso a maioria (professores e escolas) age feito robôs e lecionam as mesmas aulas e disciplinas como há 70 anos atrás (vide post “A escola de 1940”). Me tornei professor justamente por causa dos maus professores que tive, sabia que podia fazer melhor que eles, dizia-me isso o tempo todo, até que resolvi entrar para a carreira docente.


         Mudar é para poucos. É um risco. É gradativo e requer boas doses de disposição. O caos, por consequência, à espreita nos aguarda para o bote final.









quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Meia dúzia

            Repito com muita frequência que o poder esta nas mãos de uma 1/2 dúzia, que o conhecimento esta nas mãos de uma 1/2 dúzia, e que todo o resto é povo, massa de manobra ou folha de bananeira. Vai aonde o vento bater.
            Zé Ramalho, cantor paraibano, já cantou isso em "Vida de Gado". Uma canção forte que fala de fortes verdades. Raul Seixas disse uma vez que era "melhor ser burro, e sofrer menos". Viver de expectativas é mesmo uma droga.
            Estou envolvido por jovens e adolescentes que irão pagar a minha aposentadoria, preferia poder dizer isso com maior alegria, com esperança, de que o futuro reserva a todos um horizonte melhor. Mas sei que não reserva.
            Tudo o que vejo é desinteresse, preguiça e alienação. E não falo esta última no sentido ideológico (que eu não tenho de forma alguma), falo no sentido de objetivos, de busca e procura, de encontro e respostas. 
             É comum ver pessoas tão jovens sem saberem ao certo o que fazer da vida, do futuro profissional ou coisas assim. Mas é inaceitável enxergar neles a ausência completa de referências (social, familiar, pessoal) ou referências desconexas e obtusas. A grande maioria esta preocupada com o novo Samsung sei lá das quantas (como boa parte da nossa sociedade também, aliás). Mas a coisa parece estar piorando.
             Um bom filme ou um bom livro (ou pelo menos algo que nos cause reflexão) são objetos cada vez mais raros para debates. Experimente perguntar-lhes qualquer coisa relevante: a maioria te deixará em profundo desânimo. Caos latente.






quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Medo?

            A escola tem medo de mudar. E esse medo é compreensível, afinal, pois estamos assim há alguns séculos (e é claro que alguém esta ganhando com isso, né?).
             Sempre que se tenta algo novo, que se busca um "complemento" para tornar as aulas melhores, mais interessantes e produtivas, professores sempre esbarram ante a desconfiança e as delongas acerca das "regras", das "impossibilidades", etc, etc, etc.
            E não apenas a escola tem medo de mudar, professores também. Ao menos em sua maioria isso é regra. Experimente falar de algo inovador, de uma ideia que deu certo ou tentar realizar um projeto interdisciplinar: é o caos certamente. Professores são tão resistentes quanto os alunos. É incrível.
            Mas independente das razões e das dificuldades, é sempre "interessante" avaliar como escolas e muitos colegas se fecham completamente em seu próprio mundo. Parecem ter medo, de certa forma, de serem eles também avaliados (o que é um bobagem, claro).
            Sonho com o dia em que poderei combinar uma aula sobre gráficos com o professor de Geografia (por exemplo), e trazer junto a Matemática e a História, falando de René DescartesRené Descartes e todo o contexto daquela época. Nenhum aluno mediano ficaria inerte ante o cruzamento dessas informações: várias disciplinas falando de um único tema. 
            Sim, isso é possível. Mas professores e escola têm medo. E esse medo prejudica a todos (invariavelmente) e faz professores adoecerem tanto quanto alunos emburrecerem ainda mais.
            Caos. Cansaço. Frio e poluição.






terça-feira, 27 de agosto de 2013

Da Vinci


        Na minha escola "ideal", tudo seria diferente. Os alunos não seriam passivos, apenas receptivos, olhando os professores falarem por horas. Lá, os alunos estudariam um tema central, um tópico ou período histórico sob todos os ângulos, aspectos e disciplinas.
        Um exemplo: Leonardo Da Vinci.
        História - estudaríamos parte do século 15 e 16, como era o mundo naquela época, o que as pessoas faziam e de que maneira viviam;
        Ciências e Biológicas - Sabemos que Da Vinci foi um grande inventor e estudioso da medicina, veríamos a evolução e as descobertas dessa época;
        Matemática e Física e Química - Da Vinci construiu e projetou uma infinidade de armas de guerra e utensílios, e tudo isso pode ser visto sob o prisma das exatas;
        Linguagens - como era a língua da época? Como se falava Português, Inglês e Espanhol, além do próprio Italiano (língua de Leonardo)?
        Artes - desnecessário é falar da genialidade das Obras Monalisa e do homem Vitruviano;
        Imaginem todas as matérias falando de um único tema? Quantas ideias poderíamos tirar, por exemplo, de aulas assim?
        Uma coisa eu tenho certeza: a minha escola iria à falência em 1 ano.
        Segue-se o caos então.





segunda-feira, 26 de agosto de 2013

Regra de 3


           Num post de férias ("Eu já sabia", dia 9/7/13) falei de uma notícia assustadora: 90% do estudantes não sabem matemática... Incrível.
           Fui tirar essa história a limpo: fiz avaliações surpresas no Ensino Médio, em escola pública e particular, e o resultado foi aterrador. Os dados são mesmo alarmantes, tal qual descrito nas manchetes.
           Em instituições particulares os números indicam que quase 40% dos estudantes desconhecem qualquer indício do que é uma Regra de 3, por exemplo, enquanto que em escolas públicas esse dado chega aos 90% informados na reportagem. Em algumas salas, o índice foi de 100% (assustador é pouco).
           Senti-me responsável. Debati com os alunos, insisti e expliquei onde erraram, prometi refazer as avaliações (novamente de surpresa, claro) e lamentei com eles a minha decepção.
           É normal (mas não justificável) que adultos se esqueçam de como fazer uma regra de 3, por exemplo, bem como tantas outras coisas após saírem da escola. Entretanto, aceitar que estuantes (que lidam com essa prática no dia a dia) não saibam sequer improvisar um cálculo mínimo, é um terror completo. Isto é, caos.
           As razões para tanto podem ser muitas e de diversas fontes, mas uma delas é perene: o desinteresse pelo conhecimento é brutal. Apenas a minha tentativa em explicar já foi um estresse, a maioria não se importou com os resultados (em ambas escolas) chegando mesmo a rir e a fazer pouco caso da situação.
           Regra de 3 é conteúdo básico, assim como ler, escrever e calcular 2 + 2. Não é preciso "investimento do governo" para aprender regra de 3, é preciso boa vontade (de professores e alunos) e compreensão de que o conhecimento é importante.
           Se conhecimento, tudo é caos.





domingo, 25 de agosto de 2013

Não é brincadeira! (parte 029)

Da série "escola não é brincadeira":



                            (Ufa! Ainda bem que não foi comigo!)


          Dedico esse post ao meu pai, que faz 59 anos hoje. Parabéns meu velho!
          Por hoje, sem caos.







sábado, 24 de agosto de 2013

Não é brincadeira! (parte 014)


Da série "escola não é brincadeira":



(Vixe, ainda bem que meu Diretor é um gato... hahahahahaha...!)



Seguindo sem caos.




sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Racismo


         Crianças têm preconceitos? Eis uma boa questão...
         Observo jovens rindo e brigando o dia inteiro, crianças de 11 anos de idade até os quase adultos de 18 anos. Vejo neles um pouco do que é a sociedade aqui fora. Vejo bondade e solidariedade, vejo respeito e compreensão pelo outro. Mas vejo também a maldade personificada em pequenos gestos, pequenas palavras que maltratam.
         Numa situação recente, por exemplo, um aluno chamou uma colega de neguinha, nitidamente com a intenção de ofendê-la. Parti pra cima na hora, claro. E o que se sucedeu foi uma sequência de informações (sermão, na verdade) sobre a maldade e a crueldade do racismo.
         Comecei lembrando que “pequenas” ofensas, “pequenos” gestos de agressão como este, tomam proporções inimagináveis. Aí lá vem história...
         Contei da segregação racial nos ônibus com assentos para brancos, e assentos para pretos. Os banheiros públicos que diziam “proibido para pretos”. Sem falar dos táxis, que traziam infames a inscrição “somente para brancos”...
         Não entrei no mérito geográfico (se era nos Estados Unidos, no Brasil ou na África do Sul) e nem precisava. A maioria logo se mostrou incomodada com a “revelação”. 
         Imaginem sobre a entrada de um banheiro: "Proibido para Pretos". Um loucura,  claro.
É curioso como jovens que se consideram tão modernos saibam tão pouco de história. Racismo é para crianças? Ciência é para crianças? Religião é para crianças?
         O caos do preconceito esta à solta.








quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Serviço público

           

           Todo serviço público é caótico: saúde, educação e segurança.
           O Estado recebe bilhões da sociedade para gerir e garantir cada um desses itens. Entretanto, como se pode facilmente notar, nenhum deles é minimamente bem executado. Pelo contrário.
           Trabalhar numa escola e ser Professor me faz ter uma visão fascinante sobre o tema, a visão privilegiada do lado de dentro. Os bastidores.
           Sempre ouço essa pergunta: "porque a educação é uma merda?"
           Já esqueci quantas respostas eu dei. Já nem sei quantas razões é possível enumerar para tentar explicar tamanha mazela.
           Os professores são muito ressentidos, basicamente, pelos baixos salários (no Brasil profissionais com o mesmo grau de formação recebem maiores salários) pelas péssimas condições de trabalho (escola pública), e por nenhum planejamento claro que nos apoie.
          Mais de 90% dos professores que conheço têm 2 ou mais empregos. Lecionar numa única escola e viver dela é utopia. Que dirá dedicar-se integralmente...
           Isso, lógico, também reflete na baixa qualidade das aulas, nos projetos e trabalhos escolares (quando há) bem como a falta de materiais adequados, lousa, livros ou uma mísera máquina de xerox.
           Eu disse uma vez que me sinto patético em lecionar conteúdos tão complexos e descolados da realidade (como a Área de um Dodecágono Regular) para jovens que pouco se importam, mas me sinto ainda pior em saber que lhes ofereço menos que 30% do que poderia. Uma pena. Caos completo.





quarta-feira, 21 de agosto de 2013

Escola: PROIBIDA


         Sinto-me um idiota patético lecionando conteúdos matemáticos, às vezes tão complexos, para alunos que sequer me dão ouvidos. E isso, especialmente, em turmas do Ensino Médio.
         Quanto maior o aluno, menor o interesse.
         Mas quero fazer aqui, também, uma autocrítica relevante: a escola esta certa e os alunos estão errados? Os alunos deveriam escolher o que estudar?
         É com muita frequência que observo que parte significativa do que ensino não terá utilidade prática alguma, e confesso isso com a dor de uma navalha na carne. Inclusive aos meus alunos. 
          Entretanto, o que fazer diante dessa situação? Compreendo que seja sobre-humano para alguns estudar Log, Trigonometria, Volume de um prisma, entre outros, se para nada lhe servirão esses 'conhecimentos'. Pior ainda é ver o seu desprezo pela escola, pelo conhecimento e (consequentemente) pelo professor. No fundo, todos nós (escola/professores/obrigatoriedade) estamos massacrando muitos jovens talentosos. E muito provavelmente tolhendo a capacidade de um e outro possível gênio. Acredito muito nisso.
         Para mim, uma mudança radical seria uma das poucas soluções. Exemplo: as crianças estudariam o básico no primário (Fundamental I), e escolheriam opções de cursos ao longo das séries e anos. Se quisesse ser jornalista (um exemplo qualquer) seguiria num curso direcionado para as Humanas. Se fosse 'bom' de cálculo, para as Exatas. Assim como para a área das Biológicas, também, além das Tecnologias etc.
         Ao final do curso, no que hoje chamamos de 3.º ano do Ensino Médio, o estudante estaria (em tese) melhor preparado e direcionado para uma carreira mais adequada aos seus 'talentos' e gostos pessoais. Seria como se os 12 anos de estudos lhes servissem, finalmente, para algo concreto. O curso universitário, então, não pareceria algo distante e tão descolado da realidade quanto o é hoje.
         Modelo ideal, não existe. Sabemos apenas que o modo atual é falho, completamente equivocado... 
         Tudo é caos.






terça-feira, 20 de agosto de 2013

Lição de casa


          A prefeitura de São Paulo anunciou a volta da lição de casa, do boletim escolar e das provas para os alunos da rede municipal. Mais: determinadas séries agora irão reprovar de ano...
          Isso nos leva à uma questão muito simples: Provas provam alguma coisa? Ainda mais: alunos que vão mal nas provas são menos inteligentes que outros? Existe alguma relação entre notas e capacidade?
          Se perguntarmos a eles, aos alunos, ouviremos certamente que preferem não fazer prova, não receber boletins, não fazer lição de casa. Nada, nada, nada (ao menos essa é realidade que eu observo em sala de aula). Pois a escola é chata, é obrigatória, e cansativa e pesada.
          Mas, entretanto, temos uma questão ainda maior: como então avaliar os conhecimentos do aluno? Como saber se o que esta sendo ensinado, na escola, é absorvido e lhe será útil para a vida? Aliás, de novo, o que se ensina nas escolas será útil para a vida deles?
          As perguntas, lógico, são muitas. E nenhuma resposta é razoável.
          No post Escola dos sonhos debati esse tema, sobre a utilidade da escola, e do conteúdo que ela ensina (que eu ensino). 
         Mas eu não fico em cima do muro, não: nosso modelo esta falido! A escola atual esta falida, e os jovens e crianças usarão pouco (ou quase nada) do que lecionamos ao longo de sua existência... É isso.
          É duro, mas é a verdade.
          caos é tortuoso. E ninguém faz nada.














segunda-feira, 19 de agosto de 2013

Professor?




             Professores, em via de regra, colocam seus filhos apenas em escolas particulares
             Numa rápida pesquisa com meus colegas de trabalho, verifiquei que mais de 90% mantém sua prole em instituições privadas, desde muito cedo, e demonstram total repulsa em transferi-los para escolas públicas (municipal ou estadual). Já os poucos que matricularam os filhos em instituições públicas, alegaram falta de dinheiro, além de diversas outras razões, sem nunca mencionar no entanto qualquer ideologia para tal.
             Isso é, no mínimo, curioso. Já que a totalidade desses mesmos professores que solicitei (100% portanto) trabalham também em escolas públicas ou exclusivamente em escolas públicas. Ou seja, fazem parte do quadro de 'funcionários' e são responsáveis pelo bom andamento, desenvolvimento e qualidade dessas escolas. Contudo, ainda assim, parecem não confiar em absolutamente nada acerca da instituição da qual participam. 
             Fico confuso com essas coisas, confesso.
             Prossigo, e chego ainda a um raciocínio muito mais complexo: nós professores fazemos todo o possível pela escola onde trabalhamos?
             Essa é uma boa questão.
             Perguntar isso aos colegas professores é pedir para ouvir sermões. As desculpas e as razões são as mais variadas possíveis. Mas em nenhuma esta o interesse pelo bem comum. Uma pena.
             Caos também é autocrítica. 





domingo, 18 de agosto de 2013

Não é brincadeira! (parte 013)


Da série "escola não é brincadeira":



(Sempre faço isso quando prestam atenção às minhas aulas... bem feito!)




Dia sem  caos é melhor.



sábado, 17 de agosto de 2013

Não é brincadeira! (parte 012)


Da série "escola não é brincadeira":



(Se fosse eu faria o mesmo, bem feito!)



Sem caos por hoje.




sexta-feira, 16 de agosto de 2013

O quê?




"A escola deve ser o encontro com o saber com 
descobertas de forma prazerosa e funcional [...]"

Libâneo (2005, p. 117)

           Em qual mundo esses caras vivem? 
           Certamente não no mesmo onde vivo e trabalho.


           O caos é contagiante (e burro).






quinta-feira, 15 de agosto de 2013

Menor

          

          Tenho uma pequena aluna, à tarde, que toma 2 ônibus para ir para a escola, e outros 2 para voltar para casa. Por esse motivo ela falta bastante e, talvez pelo cansaço, a sua disposição e a prática em sala de aula são bem abaixo do esperado.
           Ela tem apenas 11 anos, olhos azuis, e é dentuça como a Mônica. Sempre a vejo na saída esperando pelo ônibus, sozinha, tão desprotegida e vulnerável quanto um bichinho inofensivo. Pelo que me disse, seus pais são separados e ela passa uma semana na casa de cada um. Parece uma vida dura essa, como a de tantos jovens Brasil adentro.
           Na última semana, quando choveu bastante e o frio cortava a pele, eu a vi sozinha no ponto de ônibus na hora da saída. A rua estava deserta. E eu temi pela sua segurança. Olhei para um lado e para o outro: ninguém. Parecia um filme de suspense, num cenário soturno, como se algo terrível pudesse acontecer a qualquer momento. Fiquei extremamente angustiado, preocupado com a sua segurança.
           Pensei em lhe dar uma carona, ao menos até o Terminal de ônibus, mas tive que desistir. Vivemos tempos difíceis atualmente.
            O que pareceria, à distância, ver um homem adulto e estranho levando uma criança em seu carro? 
            Eu sei, foi o que eu pensei também. 
            Por isso não tive coragem de auxilia-la mesmo estando desconfortável. Deixei-a sozinha.
            Às vezes não basta ser honesto, temos que parecer também honesto.
            Encostei junto à calçada e fiz de conta que esperava por alguém, ela nem me viu. Aguardei quase 15 minutos até que o transporte coletivo viesse. Quando então ela entrou, passou pela catraca, e eu me senti mais seguro.

            Eu não gosto de viver nesse mundo. 
            Ao menos não num mundo onde tudo é somente caos.




quarta-feira, 14 de agosto de 2013

Abissal



        Tenho uma visão privilegiada, confesso. Minha posição de professor em 2 escolas tão diferentes (pública e particular) permite que eu tenha uma impressão completa de um quadro caótico: o da educação.
        A comparação é inevitável, claro, e quem pode pagar prefere (sim!) matricular os filhos numa instituição particular e espera melhores resultados que outrem. A maior prova disso é que a maioria dos professores também colocam seus filhos nessas escolas, e não nas instituições públicas aonde eles trabalham.
        Para mim, a maior diferença entre ambas é a administração. Sim, apenas a administração é capaz de causar brutal oposição entre 'elas'. 
       A escola particular tem um “dono”, alguém que cuida de perto e não permite rateio desmedido. Afinal, o seu ‘negócio’ depende de seus cuidados.
        No público não há dono, e também não é negócio (embora todos sejam pagos pelos seus serviços) e por muitas razões não é bem cuidado, tratado e gerido.
        De uma lado, numa instituição nem se imagina a hipótese de os alunos apenas riscarem as paredes, mesas e cadeiras. Noutra, pelo contrário. Tudo é riscado, pichado e depredado. Ninguém toma conta. Nenhuma medida ou sanção é aplicada.
        É triste observar essa diferença, esse abismo. Para mim, tudo é tão óbvio.

        Vejo o caos apodrecendo as bases. Nada posso fazer, sozinho.






terça-feira, 13 de agosto de 2013

Uma pena

        

        Num post de férias do dia 9 de Julho (em plena férias, quando eu deveria descansar e esquecer do caos), repercuti uma manchete vergonhosa sobre o Ensino Médio no Brasil. A notícia dizia sobre 90% dos estudantes desse período não saberem o básico de Matemática. 
        Sou professor de Matemática, justamente, e tenho turmas que vão do 6.º ao 3.º ano do Ensino Médio (tenho literalmente todas as séries, portanto), em escola estadual e colégio particular. E a notícia tocou-me como um soco violento no estômago. Pois ao contrário de muitos, eu me importo e me sinto responsável por parte dessa baderna.
        De lá pra cá, desde a volta às aulas, tenho batido muito nessa tecla. Especialmente na escola pública, à tarde, com turmas de 5.ª séries. Repetindo à exaustão operações básicas de divisão e multiplicação, exercitando e tirando dúvidas, chegando mesmo a ensinar tudo de novo, como se jamais tivessem visto aquilo... 
        Eu já sabia o resultado, claro, e em parte não me surpreendi com o resultado: caótico.
        Mas ainda assim vejo a necessidade de refletir sobre as conclusões que estou tirando, como por exemplo (posso adiantar agora) observar que a situação é ainda mais grave. Crianças chegam à 5.ª série sem saberem ler e escrever corretamente, não dominam as 4 operações básicas da matemática, e toda a sua energia e empolgação, o 'interesse' pelo conhecimento, vai perdendo-se ao longo dos anos e séries (vide post do dia "Extremos", por exemplo), até caírem todos na vala comum.

        Uma pena. Mas pretendo dissecar em outros Posts esse tema. 

        É preciso, também, entender o caos.


segunda-feira, 12 de agosto de 2013

Era da Tecnologia




       Não tem jeito. Não me canso.
       Estamos na era da tecnologia, no pós-moderno cultural e, entretanto, como vivemos? De que maneira tratamos coisas importantes?
       É lamentável que nós, professores, ainda usemos Diário de Classe em papel. E que tenhamos que fazer a chamada, aula após aula, do primeiro ao último professor, desperdiçando um tempo que poderia ser melhor aproveitado.
       Parece mesmo uma piada.
       Excetuando as teorias da conspiração (a de que o Estado age sorrateiro para que todos permaneçam burros, por exemplo) não posso imaginar outra razão para compreender porque ainda lecionamos como há 50 anos atrás.
       Poxa, custa estabelecer uma regra geral, para que essas chamadas sejam feitas apenas na primeira aula? Ou então algum sistema eletrônico, um chip, talvez, que permita a identificação de cada aluno e registre assim a sua presença?
       Dinheiro para isso o Estado tem (tenho certeza disso), e tecnologia também. É só questão de querer.
       E o que dizer das anotações diárias, que ninguém nunca lerá?
       E as tabelas de notas e cálculo das médias? Alguém já ouviu falar em Excel?
       Decepção.

       É isso: seguimos fomentando o caos



.

domingo, 11 de agosto de 2013

Não é brincadeira! (parte 011)

Não é brincadeira! (parte 009)
Da série "escola não é brincadeira":




(Acho que já vi essa cena em algum lugar...)




Domingo é dia de macarrão com frango. E não de caos




sábado, 10 de agosto de 2013

Não é brincadeira! (parte 010)


Da série "escola não é brincadeira":




(Se meus alunos ao menos soubessem quem foi Santos Dumont ganhariam um ponto na média!)



Sábado é o dia do Senhor. Do Sr. Geraldo, que me serve aquele chopp especial!


Sem caos por ora.



sexta-feira, 9 de agosto de 2013

Escola dos sonhos




       Sempre brinco com os meus alunos que um dia terei minha própria escola (recomendo inclusive que matriculem seus filhos nela, daqui há 10 ou 15 anos). 
       Nessa escola, os professores serão obrigados a 'cruzarem' as matérias.
       Explico-me:
       Não faz sentido algum não interligar as disciplinas. Melhor seria se pudéssemos ensinar um mesmo assunto, um tópico único, analisados por ciências, história, matemática, geografia, inglês, artes, português, etc, etc, etc. 
       Porque não?
       Veremos, por exemplo, um século central. Vamos tomar o século XVIII (18, se você ficou com preguiça de pensar) e todas as matérias seguiriam esse período. Entra e sai professor, e o tema continua sendo o mesmo, só que sob a visão diversa de várias disciplinas escolares. Estudaríamos esse século sob todas as 'matérias' da grade, e saberíamos o que cada uma tem a nos ensinar acerca dessa época / evento / personagem.
       Ou então um tema central, uma espécie de tema único, algo específico como Era Moderna, Era Medieval, Era do Bronze, etc. As possibilidades são infinitas...
       Sinto-me um pateta explicando minha disciplina, totalmente descolada das demais, feito um extra terrestre tentando justificar uma e outra contradição.
       Como professor de Matemática, garanto que consigo fazer um link com todas as outras disciplinas. O que tornaria, tenho certeza, as aulas muito mais interessantes. Entretanto falta empenho, interesse e boa vontade. De todos.
       
       O caos é constante.




quinta-feira, 8 de agosto de 2013

Pode?




       Professor pode falar e escrever errado? Eis a questão...
       Alguns alunos vieram perguntar-me. Eu ri (lógico). E foi um riso de aflição.
       Quis saber o motivo da pergunta antes de responder (esta é uma ótima tática), mas não entraram em detalhes. 
       Em tese, todo mundo pode escrever ou falar errado uma e outra vez.
Professor também erra, também fala e escreve errado - eu lhes disse. Mas é lógico que para tudo há um limite. E o limite é  o bom senso (com "S").
       Concordo que alguns erros são inaceitáveis, e tenho visto uma série de ocorrências pavorosas por aí (de arrepiar os cabelos que já não tenho). Mas concordo também que o mais importante é a comunicação, no final das contas, e que o meio (nesse caso) justifica o fim.
       Mas é preciso atenção. Observo desleixo, desprezo e até mesmo indiferença pela ordem, pela clareza e qualidade em comentários, observações e manifestações. 
       Às vezes, é melhor mesmo nem dizer nada. Falo por mim.
       O professor (diferente do advogado, médico ou empresário) é uma vitrine, um outdoor vivo e ambulante. Estamos sendo vigiados o tempo todo.

       Caos. Barulho. Hora do recreio...





quarta-feira, 7 de agosto de 2013

HTPC (Parte 2)



      Uma vez na faculdade ouvi falar dessa tal HPTC. Alguém me disse que era o inferno. E eu fiquei curioso, então.
      Eu pensava que os professores se juntavam para preparar suas aulas, combinarem conteúdos semelhantes, etc. Bobagem.
      Ninguém liga pro que esta sendo dito. Tenho pena dos coordenadores, eu sei como é ruim não ser ouvido. Passo por isso todos os dias em sala de aula.
      Aliás, essa é uma analogia interessante: nós, professores, agimos como nossos alunos. Torcemos para acabar logo, para irmos embora, e achamos que nada daquilo nos diz respeito. Incrível.
      Eu acreditava (tolo) que poderia 'encaixar' Matemática com o Prof. de Geografia e falar das coordenadas cartesianas. Com os professores de História e Sociologia, bem como o Prof. de Filosofia, e trazer os grandes Matemáticos da humanidade (já que estes eram filósofos, agentes históricos e também cientistas em sua época). 
      Bobagem ( Parte 2).
      É fascinante viver a escola do lado de dentro. Os alunos deveriam experimentar. Veriam que tudo também é caos atrás da coxia, nos bastidores.
      Veriam que há gente interessada. Que há os preguiçosos, os maledicentes e os sonhadores também. Os inocentes e os maldosos, e os mal intencionados. E uma gama tão grande de personalidades quanto há no meio dos alunos... de quem reclamamos e brigamos tanto. Fascinante.

      Decepcionante.

      Caos em início de semestre.




terça-feira, 6 de agosto de 2013

HTPC (Parte 1)


       As iniciais HTPC (Horário de Trabalho Pedagógico Coletivo, ou coisa que o valha) servem para reunir professores em volta da mesa, para capacitação e aprimoramento do conhecimento... mas é lógico que não é bem assim.
       Há 5 anos em cinco escolas diferentes (pública, estadual), percebi que tudo é igual em diferentes unidades. Uma pena.
       A maioria reclama, queixa-se e ignora qualquer inciativa positiva. Para todos é uma perda de tempo (e na maior parte das vezes é mesmo).
       Decepciono-me tanto na maneira quanto o Estado nos trata como na forma com a qual os professores se relacionam. Pior: suas queixas eternas e nenhuma vontade de realizar pequenas mudanças para melhorar nosso quotidiano, inviabilizam qualquer avanço.
       Vejo brigas, vejo discussões acaloradas. Vejo tédio.
       Na maioria das vezes, nenhum interesse pela opinião do outro.
       Reclamamos tanto dos alunos, e somos idênticos a eles.
       E isso, claro, chama-se caos.


Segue-se a semana e o caos.



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segunda-feira, 5 de agosto de 2013

Extremos

       Observo jovens o dia todo: 12 horas quase ininterruptas, de segunda a sexta.
       Jovens que vão de 11 a 18 anos de idade, meninos e meninas da 5.ª série  ao 3.º ano do Ensino Médio.  
       E é curioso notar que há uma involução ao longo do tempo, ao contrário do corpo físico, quanto aos ideais e objetivos de vida.
       Exemplo:
       Se eu pergunto a um menino de 11 anos o que ele quer ser, quando crescer, a resposta esta na ponta da língua. Mais ainda: ele tem 5 outras opções para cada possibilidade de profissão.
      À medida que o tempo passa, os objetivos diminuem. Os sonhos declinam.
       Uma pena.
       Pergunto a estudantes em véspera de vestibular ou exame do Enem, o que desejam estudar na facudade: 90% não sabem. As ideias sumiram. Então é o caos.
       É triste notar que justamente na fase de escolherem um início de caminho para a vida, a maioria esta pouco se lixando, chegam a fazer piadas, obre o próprio desinteresse, e desperdiçam todas as horas que podem no Face ou qualquer outra bobagem como vídeo games e TV.
       É o que tem pra hoje. Esse é o nosso mundo.

       Caos a todo vapor.