Recomeço. Primeiro dia.
Chego à escola logo cedo. Primeiro dia é
sempre complicado.
Não conheço ninguém. Nenhum colega professor.
Nenhum aluno na entrada. Ninguém. Poucas vezes me senti tão sozinho...
Recebo os diários de classe, dou uma rápida
olhada, o cenário é desolador.
Toca o sinal. O primeiro sinal.
Procuro a sala onde devo entrar. Sala de
ensino médio. Não conheço a escola. Não conheço ninguém e ninguém me conhece.
Como será que irão reagir?
Entro.
Cumprimento e observo as instalações do lugar. Faz frio. Muito frio.
Alguns me olham. Esperam que eu diga alguma
coisa. Não digo nada.
A sala esta o inferno, ninguém
respeita os horários, as mesas e cadeiras reviradas, algumas janelas quebradas.
Sim, estou no caos. Percebo que terei muito a escrever neste diário. O caos das escolas públicas nunca deixará de me assustar. Mas porque tem que ser
assim?
Noto que a maioria nem percebeu a
minha presença. Na verdade, alguns jogam baralho, ouvem música e até dançam. Os
meninos todos de boné. As meninas todas vestidas inadequadamente. Sim, estou no caos.
Vou até a lousa e escrevo meu nome, a
disciplina que leciono, e sob letras garrafais coloco a sigla em amarelo:
"ENEM" e "SISU".
Pergunto, então buscando silêncio, se
alguém sabe o que significam aquelas palavras... Caos novamente. Dos mais de 46
alunos em sala, ninguém é capaz de explicar coisa que valha a pena dizer. Sim,
estou no caos.
Toca o sinal. Outra sala. Outra vez as
siglas. Outro silêncio assustador. E assim vou até a última aula, na última
sala. Tudo igual. Incrível!
Em cada rosto que eu olho, em cada
gesto de desprezo que eles têm por mim, pela minha matéria e pela escola,
percebo que estamos realmente perdidos. Que a educação pública, à qual me
proponho há anos colaborar com melhorias, está anos-luz distante da elite, das
escolas particulares, e do mínimo ideal que tanto desejamos.
Sim, estou no caos. E é só o
primeiro dia.
[* Clique no título da postagem para deixar o seu comentário!]