quarta-feira, 5 de junho de 2013

Não deu certo


        Não deu certo.       
       Mas não é demasiado afirmar que a ideia original da Progressão faz todo o sentido. Mas só a ideia. A prática esta há anos-luz de distância e provavelmente jamais a alcançaremos. 
       Uma pena. Mas é uma verdade.
       Convivo com pequenos alunos que ingressam na 5ª série (atual 6º ano), que chegam às salas de aulas excitados, de olhos arregalados. Tudo lhes é novo. E tudo é muito difícil. Eles vêm despreparados, em grande número analfabetos, e por infindáveis razões torna-se improvável ensinar-lhes potência, análise sintáxica ou contexto histórico da África. Mas ainda assim vejo colegas se virando como podem, contando vitórias e derrotas, em meio a um turbilhão de deficiências e necessidades.
       Pedir que aprendessem tudo num único ano letivo é realmente bobagem, e então a Progressão Continuada, em teoria, encaixa-se como um modelo possível para esses problemas. Mas apenas em teoria – como disse.
       Alunos não são reprovados e até a 8ª série – como é do ser humano – aproveitam-se dessa brecha para não darem a devida importância ao aprendizado contínuo. Na 5ª série, meninos e meninas ainda se esmeram. Na 6ª série, começam a ratear. Da sétima em diante, com os namoricos escondidos – ou não – tudo desanda de vez. Então é o caos.
       Boa parte desses jovens abandona a escola antes de completarem a 8ª série (9ª ano), e bem poucos seguem para o ensino médio. Os que conseguem, têm deficiências tão gritantes que muitos colegas desistem e faz-se uma vista grossa generalizada. Nesse instante a violência, o desinteresse e mesmo o uso de bebidas alcoólicas e drogas ilícitas praticamente inviabilizam o trabalho docente. Professores passam a se contentarem com pouco, com trabalhos e provas de baixo nível, e aprovam jovens estudantes completamente despreparados para os melhores vestibulares.
       Claro que há exceções, entre escolas, colegas e estudantes. Mas estes são ínfimos.
       Permitir que esses jovens continuem aprovados pela Progressão, ano após ano, é um crime hediondo.  Para dizer o mínimo.
       Ou se oferece uma via de trabalho de fato condizente com a nossa realidade, ou extingue-se tal modelo. 
       Como está, não dá. É o caos.