Greve surpresa em SP:
população refém de ½ dúzia de canalhas...
5 da manhã. Como sempre, tô de pé.
Ando o mesmo caminho para o trabalho. O mesmo ponto de ônibus. Tudo escuro, tudo igual.
Mas uma coisa esta diferente: há mais gente encolhia sob a marquise esperando o mesmo coletivo que eu. Aliás, há muito mais gente que o normal.
Dez minutos. Vinte minutos de demora. Algo esta errado, os ônibus não vêm. Olhamo-nos intrigados, começa a clarear o dia, os ônibus não vêm. Não nos conhecemos, ninguém sabe o destino do outro, mas sabemos que estamos todos fodidos: os ônibus não vêm.
- Tudo de greve! Os ônibus fecharam a Estrada do M'Boi Mirim!
Vários passam gritando, a pé, de carro, rindo.
Sim, estamos fodidos.
Volto pra casa correndo, ligo a Tv. Seis da manhã e eu vejo - enlouquecido - não apenas os ônibus em greve, mas os ônibus totalmente atravessados nas duas pistas das avenidas M'Boi Mirim, Guarapiranga e Atlântica. Resultado: caos total.
Não passa ônibus, não passa carro, não passa nada.
Não basta atrapalhar o proletário já oprimido, por um salário indigno e miserável, não basta não avisar antecipadamente que haverá paralisação dos transportes coletivos, não basta a humilhação de se sentir fodido num ponto de ônibus às 5 da manhã: é preciso obstruir a única via de saída dessa parte da cidade. É preciso ainda submeter o poder público ao vexame, a polícia, autoridades e políticos também. É preciso nos lembrar que qualquer um, qualquer organização, empresa, sindicato ou movimento criminoso é capaz de nos foder, e de nos foder com todas as forças de suas entranhas.
Ligo para a escola, constrangido, desculpo-me, aviso o ocorrido, estou pensando numa maneira de chegar ao trabalho. Impossível. Estou fodido de qualquer jeito. Sinto-me totalmente violentado como cidadão.
Caos.