segunda-feira, 12 de maio de 2014

Greve

Greve surpresa em SP: 
população refém de ½ dúzia de canalhas...




           5 da manhã. Como sempre, tô de pé. 
           Ando o mesmo caminho para o trabalho. O mesmo ponto de ônibus. Tudo escuro, tudo igual. 
           Mas uma coisa esta diferente: há mais gente encolhia sob a marquise esperando o mesmo coletivo que eu. Aliás, há muito mais gente que o normal.
           Dez minutos. Vinte minutos de demora. Algo esta errado, os ônibus não vêm. Olhamo-nos intrigados, começa a clarear o dia, os ônibus não vêm. Não nos conhecemos, ninguém sabe o destino do outro, mas sabemos que estamos todos fodidos: os ônibus não vêm.
           - Tudo de greve! Os ônibus fecharam a Estrada do M'Boi Mirim!
           Vários passam gritando, a pé, de carro, rindo.
           Sim, estamos fodidos. 
           Volto pra casa correndo, ligo a Tv. Seis da manhã e eu vejo - enlouquecido - não apenas os ônibus em greve, mas os ônibus totalmente atravessados nas duas pistas das avenidas M'Boi Mirim, Guarapiranga e Atlântica. Resultado: caos total.
           Não passa ônibus, não passa carro, não passa nada.
           Não basta atrapalhar o proletário já oprimido, por um salário indigno e miserável, não basta não avisar antecipadamente que haverá paralisação dos transportes coletivos, não basta a humilhação de se sentir fodido num ponto de ônibus às 5 da manhã: é preciso obstruir a única via de saída dessa parte da cidade. É preciso ainda submeter o poder público ao vexame, a polícia, autoridades e políticos também. É preciso nos lembrar que qualquer um, qualquer organização, empresa, sindicato ou movimento criminoso é capaz de nos foder, e de nos foder com todas as forças de suas entranhas.
           Ligo para a escola, constrangido, desculpo-me, aviso o ocorrido, estou pensando numa maneira de chegar ao trabalho. Impossível. Estou fodido de qualquer jeito. Sinto-me totalmente violentado como cidadão.
           Caos.


Ñ é B (parte 101)


Da série "escola não é brincadeira":


                 - A resposta é intuitivamente óbvia.
                 - Nós estamos mortos!