terça-feira, 3 de setembro de 2013

Artista


          Um exemplo real:
          Tenho um aluno com péssimas notas, pequeno e franzino, que não se dedica às lições e que sempre é chamado a atenção. Para ele a escola é um fardo, nada lhe interessa.
          Os professores se queixam, eu também me queixo, e tudo que ele faz é olhar para o chão (pois ainda tem 11 anos e ainda obedece à certas ordens).
          Desde o começo do ano suas dificuldades são extremas, e seu desinteresse é imenso (não dá pra saber o quê vem antes ou depois). 
          Para ele o mundo é o seu boné, seus cadernos de desenho e arte que pratica. Sim, ele é muito talentoso. E toda a sala já percebeu isso.
          Fico imaginando esse menino, como tantos milhões de outros e com talentos diversos, sendo coagido e pressionado a estudar o que não quer,  o que não lhe interessa, e o que não fará diferença alguma em sua vida. 
          É mesmo injusto empurrar-lhe uma infinidade de conteúdos desnecessários, matérias e mais matérias, e não aproveitar tamanha facilidade com a sua arte. Fico constrangido em obriga-lo a estudar Potência de um número Inteiro, por exemplo, sabendo que ele na verdade bem poderia ser um grande desenhista, projetista, engenheiro (e só a partir de então mergulhar no mundo dos cálculos, quando então for o caso). Deveríamos deixar a intuição vir primeiro, a leveza de ser, de fazer com prazer. Mas não.
          A verdade é que, em poucos anos, ele será vencido pelo Sistema. Em pouco anos ele se lembrará da escola como algo negativo, ruim, e sentirá alívio por tê-la deixado. Pior: terá provavelmente desistido também dos seus desenhos, da sua arte, tamanha pressão e coerção, sem notar que a escola poderia tê-lo ajudado (mas não ajudou). 
          Terá aceitado um subemprego qualquer. Perderá as suas maiores chances e oportunidades após tantas e tantas reclamações, queixas, críticas e opressão, para que aprenda somente o que a escola deseja que ele aprenda. Para que se comporte como um robô e não reaja, não saia do script, não goze.
          Isso sim é o caos, em seu mais alto grau de refinamento.