terça-feira, 19 de novembro de 2013

Consciência

Somos negros e mulatos? Ou somos a sombra do que não sabemos?



               Nesse dia 20 de Novembro, dia da Consciência Negra, algumas reflexões tornam-se pertinentes. Lá vamos nós...
              Muitos alunos questionam-me acerca das cotas para negros nas universidades, leis e outros programas afirmativos, entre tantos temas polêmicos e de difícil compreensão, e eu sempre me vejo numa saia justa tentando em vão conciliar prós e contras de cada indagação. Mas o fato é que é difícil posicionar-se sem, antes, relembrar e levar em conta fatos e contextos importantes da nossa história. Ou seja, entender o passado para consertar o futuro, compreender as causas para atenuar as consequências... 
              É bom que se diga, antes de mais nada, que a maioria desses questionamentos é feito por alunos não negros, isto é, por alunos que por diversas razões rejeitam as cotas e/ou qualquer ato que se configure (assim o consideram) como vantagem.
              Explico-me:
              Trabalhando em duas instituições de ensino todos os dias, pública e particular, e sendo elas tão diferentes e tão próximas geograficamente (no extremo da periferia, portanto), posso dizer que tenho uma visão mais que privilegiada sobre diversos assuntos. Posso observar e comparar as duas escolas todos os dias, em todos os seus defeitos e qualidades, como poucos profissionais teriam a curiosidade de fazer, e "curtir" as mais minuciosas revelações desse privilégio. E essa comparação se dá, também, na questão étnica e/ou racial. Especialmente quando o assunto é oportunidades.
              Na escola pública, por exemplo, a quantidade de alunos negros e/ou próximos disso (mulato, pardo, etc.) ultrapassa fácil os 40% em cada sala. E esse número só não é maior porque ainda há uma dificuldade imensa dos jovens e crianças em aceitarem-se ou reconhecer-se como negro. Já em escola particular, entretanto, o número de alunos negros não passa de um indivíduo por sala. E há salas onde não há sequer um único negro entre os alunos.
             O mesmo ocorre no quadro de professores: na escola pública parte significativa é formada de mulheres e homens negros. Na particular esse percentual cai drasticamente: posso afirmar que me incluo entre os poucos da raça que não somam mais de dois (talvez) três professores, se muito...
             O que há de errado, então, num país essencialmente descendente dos negros e de tantas miscigenações? Onde esta a igualdade?
             As oportunidades não são iguais, e levarão ainda muito tempo para sê-lo. O pior se dá quando o aluno que é negro, também é do sexo feminino e mora na periferia extrema de grandes cidades (como nos lugares onde leciono). A situação agrava-se tanto mais quando a escolaridade é baixa, quando há gravidez na adolescência, e quando este tem uma família desestruturada (boa parte dos meus alunos de escola pública tem esse perfil). 
             Isto é, a consciência esta bem longe de ser honrada. E tudo evidencia que o abismo só tende a crescer, caso não se faça alguma coisa, enquanto o caos  nos vigia solene. E é preciso que se pense a respeito, que os alunos se reconheçam como tal e que reivindiquem seus direitos (históricos e atuais) para que esse dia de consciência faça tanto ou mais sentido que o escrito. Caso contrário, é o caos perpétuo.