quarta-feira, 26 de novembro de 2014

Aprovação automática

#Parte_3
Um povo sério jamais 
permitiria isso...

                 Hoje uma aula diferente em cada sala, uma espécie de "resumo" da ópera sobre o fim que se aproxima. Alguns discursos, recolhimento de trabalhos retardatários, mas no geral tudo é extremamente melancólico: não há o que se comemorar. Ao menos não para mim.
                 Na sala dos professores, durante o cafezinho, a melancolia é ainda maior. Acho que nunca me senti tão só quanto nessa manhã, enquanto todos planejavam mil coisas e eu estava preocupado com a ineficiência do meu trabalho. Se eu fosse um operário numa fábrica de automóveis, meu ofício principal deveria ser "fabricar automóveis", e ao final de certo processo eu deveria ter "fabricado" determinadas quantidades de automóveis. Mas estou numa escola, e o que eu fabrico aqui? O que tenho a oferecer a essa gente? Será que alguém se importa com o fato irrisório de que alunos passem de ano sem saberem ler e escrever corretamente? Eles estão no ensino médio, em poucos meses prestarão o vestibular e, no entanto, alguém se importa? Os próprios alunos se importam?
                  Não estou "fabricando" automóveis corretamente: esta é a minha auto avaliação. Se eu fosse o dono dessa empresa chamada Secretaria de Educação do Estado estaria muito decepcionado com os resultados até aqui obtidos. É triste notar o quanto soluções simples advém de conclusões óbvias, mas parece que ninguém vê [ou nem se importa].
                 Aprovar alunos automaticamente não é só um erro, é um crime. Aceitar que o sujeito "aproveitará" as oportunidades de "avaliação em ciclo" é tão estúpido quando beber ácido. A imensa maioria dos alunos sabem que não podem ser reprovados e por isso mesmo pouco se dedicam. Repito: os responsáveis pela educação pública não têm os próprios filhos ou netos matriculados em instituições públicas. Se assim não fosse, todo o sistema seria modificado... Simples. Caos. Fim.




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