quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Sobre as coisas da vida

Resultado de imagem para flor no caos

                          Segundo dia de volta às aulas.
              Hoje, enquanto conversava numa sala de 5 série (atual 6 ano), estava recomendando que os alunos deixassem a apostila já usada de Matemática em casa, pois logo usaremos a nova para esse início de semestre. Lembrei da imagem aterradora de folhas ao vento, milhões delas sobre as ruas do bairro no entorno da escola, cadernos usados, livros usados, apostilas usadas. Tudo rasgado pelo chão atirados pelos alunos. A maioria entende que esse tipo de material deve ser descartado tão logo termine um bimestre escolar... Então me apressei em dizer que seria bacana guardarem o material à posteridade. Logo suas letras mudariam em muito e, com o passar dos anos, cada rabisco e cada anotação seria como um tesouro redescoberto. Suas próprias assinaturas estariam completamente diferentes, o detalhe de uma vogal, o desenho na contra capa, toda aquela infinidade de datas e lições dizendo algo sobre seu passado, suas histórias contadas em páginas escolares. Eu dizia isso e me sentia um velho chato resmungão buscando neles uma nostalgia que ainda não têm - e nem poderiam ter. Comecei a sentir raiva de mim mesmo enquanto falava (faço isso com bastante frequência) e tentei resumir coisa e outra sobre a magia de carregar e manter sua própria história. Ainda que, hoje, aquilo tudo pudesse parecer chato e um monte de papel riscado.
             Sentei, abri o diário de classe para fazer a chamada e tentei diminuir os auto-insultos que repetia, quando ouvi uma aluna dizendo para outra "estava com saudades dessas conversas sobre a vida". Meu coração se encheu de ternura. Fiquei sem jeito (faço isso com bastante frequência) e não deixei que notasse ter ouvido, um sorriso por dentro me fez notar o quanto subestimamos a capacidade humana de sentir. E sentir, é a única coisa que nos faz realmente diferente de tudo no universo.

PS: essa aluna tem 11 anos de idade.

                 Caos, com qual frequência você costuma conversar sobre a vida?