Nunca dei aulas para filhos de um político. É curioso.
Em todos esses anos, em instituições públicas e
particulares, com o número aproximado de 500 alunos diferentes por ano, era de
se esperar que uma hora eu cruzasse com os filhos de alguém importante, de
alguém que tem o poder nas mãos. Mas não, nunca aconteceu.
Nenhum filho de deputado, de vereador ou subprefeito. Nenhum
secretário de governo, sequer um funcionário de 2.º escalão, de 3.º escalão.
Nada! Ninguém confia seus filhos em
escolas públicas ou instituições de periferia... É triste.
Estranho? Talvez não...
Essa gente sabe que faz um péssimo trabalho. Sabe que tudo
esta uma droga, um caos completo, e se recusa a submeter qualquer um dos seus a
tais circunstâncias. Curioso.
O povo é mesmo estúpido: paga a conta e não vê o resultado,
não se importa com nada, ansioso pelo novo BBB. Por menos que isso cabeças de
reis e rainhas já rolaram. Incrível.
Não faz sentido um vereador não confiar sua família à serviços
públicos, um secretário de saúde consultar-se com os médicos mais caros, ou um
ministro da educação matricular seus filhos em escolas caríssimas. Sem falar dos
carros blindados, segurança particular e outros.
Ser professor na periferia de uma grande metrópole é
observar todos os dias o descaso, a falta de cuidado e de assistência, e a não importância que o povo dá para esses
assuntos. Então alguém diz: “mas o povo
não tem conhecimento para tanto”. Discordo. Eu sou testemunha de que milhares
de professores lutam para conscientizar milhões de jovens (o futuro) sobre tudo
que aí esta. Em vão. O novo celular é
mais atraente. O novo reality é assunto principal. Jogos decisivos de quarta e
domingo, toda semana, todos os anos.
É difícil competir. É caos na certa.