sábado, 22 de junho de 2013

Escola é Sociedade


      Fico incrivelmente surpreso ao observar o quanto uma sala de aula parece-se com a nossa sociedade:
      Há sempre uma minoria que domina o conhecimento, que se destaca na organização, inteligência e eficiência. São a elite, naturalmente, que vive à parte do caos contínuo que é o dia a dia de uma classe.
      Há uma minoria (sim, minoria meeeeeeesmo) que marginaliza o grupo, que depreda a escola, quebra vidros, mesas, cadeiras e picha as paredes. Em hipótese alguma lhes passa pela cabeça a possibilidade de estudar (embora estejam numa sala de aula) ou respeitar qualquer regra. Ao contrário: eles sabem de cor cada uma das regras, conhece-as e descobre-as justamente para burla-las. São muito inteligentes. Ficam à espreita, observam e ambientam-se, até compreender  que todo o espaço é desorganizado e  que as pessoas se assustam com pouco, que aceitam qualquer opressão ou imposição, e que tudo à volta lhes é terreno fértil e hospitaleiro. Eles gostam da escola (sim!). Pois aquele é o único lugar onde ele (99% são meninos) é temido, respeitado e "tolerado".
      E entre esses grupos extremos, entre a "elite" e os "degradados", vejo uma imensa vastidão de alunos ociosos, preguiçosos e deficientes de aprendizado. São a maioria. Para mim, representam o maior desafio e os maiores problemas (pedagógicos) da escola. Dividem-se basicamente em 2 grupos muito distintos:
      O primeiro é negligente, inerte e moroso. A palavra preguiça lhes é a melhor definição. Em casa, têm ótima oratória, jogam vídeo game e são muito ativos. Mas apenas no que lhes interessam. Na escola, até conseguem desenvolver bem determinadas lições. Mas é preciso dispor de tanta energia e dedicação exclusiva do professor, que seria necessário abdicar de todo o resto sala para tanto. E isso, em escola pública, é impossível.
      O segundo grupo é o mais complexo. Compõe o maior número de alunos. Não sabem conceitos básicos como divisão, multiplicação, pontuação e acentuação. Chegam à 8ª série e não são capazes de escrever um texto de 7 linhas. Mas quando conseguem, sequer sabem ler o que acabaram de escrever. Foram empurrados pelo sistema de aprovação automática, e chegam aos últimos anos do ensino médio (quando não desistem antes) escondendo-se pelos cantos das salas de aula, fazendo trabalhos em grupo, e simulando o tempo inteiro que estão produzindo. Mas não estão. Às vezes tenho vontade de rir, observando-os à distância, tamanha a encenação de alguns para esconder que não sabem nada.
      E há também outros grupos em volta, como os professores, que fazem o papel de seus tutores; a direção escolar, que esta sempre espremida entre omissão e impotência; e o Estado, que desvia recursos e subjuga a todos; sem alar da família desses jovens e crianças, que cobram, cobram e cobram. Mas reclamam de participar das reuniões e conselho escolar, de acompanhar o aprendizado de seus filhos, de irem a escola, de impor limites a estes, etc., etc., etc. 
      Uma sala de aula pode ser uma sociedade inteira. Para mim ela o é há tempos!