sexta-feira, 31 de agosto de 2018

Eleições 2018

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             Está difícil compreender quais as propostas dos candidatos, menos ainda sobre a educação.

             Caos, o que há de errado com esses políticos?



quinta-feira, 30 de agosto de 2018

Comer mal. Estuda mal. Viver mal.
Nas escolas de 
pobre falta tudo sempre.
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         Hoje os alunos comeram macarrão. Um macarrão chechelento, diga-se de passagem. Grudento, melado, um aspecto terrível. Nenhum outro acompanhamento, nada, apenas macarrão e só. É isso o que o Estado oferece ao futuro da nação.
        Ontem, foi apenas arroz + um "mexido" de ovos no mesmo melado chechelento do macarrão de hoje. Anteontem foi arroz puro de novo e algum caldo ralo com pequeninos pedaços de carne. O Estado é bastante eficiente quando o assunto é não cuidar, não alimentar, não educar a população mais jovem. E se esta for pobre, parda e de periferia, a eficiência dobra.
       A sociedade lá fora não faz ideia do que acontece dentro das instituições públicas de ensino, que deveriam ter ao menos o mínimo, que deveriam ser o centro de conhecimento e encontro. Mas não são. 
      O Brasil não sobreviverá por muito tempo.

      Caos, o que você comeu hoje?

terça-feira, 28 de agosto de 2018

Cocaína, 
você deve ser muito boa...
             Na periferia, as mazelas do tráfico e o consumo desenfreado de cocaína são tão onipresentes quanto a ausência do Estado.
             O abandono assemelha-se à desesperança...

[*foto tirada atrás da escola]


            Caos, você já cheirou hoje?



segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Tribunal 
Regional 
Eleitoral
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        Hoje participei de um treinamento no TRE, para ser mesário nas próximas eleições, e a bizarrice parece não terminar nunca.
        Boa parte dessas pessoas convocadas para o trabalho no dia da eleição é de funcionários públicos, como eu, professores e outros tantos. Havia lá toda um estrutura nos esperando logo cedo, para capacitar os futuros mesários (dentro do que e possível) mas poucas pessoas pareciam interessadas - pelo que vi.
         Do meu lado esquerdo e também direito as pessoas usavam o telefone celular, curtiam fotos no Facebook, davam like no Instagran e riam sozinhas assistindo os vídeos mais engraçados do momento. Ninguém ali demonstrou qualquer interesse pela importância do que será o ato em si, no dia da votação, bem como não parecem importarem-se com coisa alguma. Eu realmente me preocupo com a capacidade que o nosso país tem de sabotar a si mesmo, e é por isso que (sempre que posso) refuto a teoria maluca de que "o governo não quer que as pessoas estudem e assim permaneçam burras". As pessoas são e serão burras sozinhas, não é preciso o Estado impingir coisa alguma. É óbvio que apenas as próprias pessoas burras alimentam esse tipo idiota de ideia, e estão ali, com seus celulares em mão, deixando a banda da história tocar impune do lado de fora da janela. Somos tão estúpidos e incompetentes (funcionalismo público de base que o diga) que logo logo precisaremos terraplanar um país novo para sobreviver a todo o caos.

         Caos, dá pra prestar atenção pelo menos uma vez?






domingo, 26 de agosto de 2018

sábado, 25 de agosto de 2018

sexta-feira, 24 de agosto de 2018

Estabilidade só protege 
os incompetentes

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             Se você faz um trabalho ruim ou pouco satisfatório logo é mandado embora, perde o emprego e vai retomar seu caminho em outro lugar. É difícil para a empresa justificar essa demissão e, por isso mesmo, a legislação obriga que as instituições paguem uma multa como indenização. Pronto. Simples assim. O empregador não se vê obrigado a carregar um funcionário preguiçoso, que falta muito além do suportável, que não se recicla, não colabora, não acrescenta em nada, ou é simplesmente incompetente mesmo. E o sujeito, por sua vez, recebe o que lei manda e reflete (ou não) sobre suas práticas profissionais enquanto busca uma outra recolocação. 
             Mas no serviço público isso não é assim. 
             Há um filtro de entrada que é o concurso público (uma prova e, dependendo do tipo de serviço, algum tempo de probatório que pode levar anos) e mais nada. Depois disso se o sujeito falta ao trabalho, deixa de realizar um bom serviço ou pouco se importa em desempenhá-lo com excelência, o Estado tem de carrega-lo até que se aposente. Conheço muitos professores e  profissionais da educação assim. Creio que na área da saúde, segurança e tudo quanto é lugar onde o Estado precisa de pessoas para exercer uma atividade é a mesma coisa. Os motivos? São muitos, eu concordo. E boa parte desses giram em torno das difíceis condições de trabalho, os salários sempre abaixo do aceitável e a quase inexistência de incentivos de carreira. O que não justifica, em hipótese nenhuma, o trabalho horrível que essas pessoas desempenham.
          Creio que em breve pagaremos um preço muito caro pelos péssimos serviços públicos que recebemos (e no meu caso, pelo que oferecemos). Aqui e ali já ouço algumas vozes se levantando, mas não demora e as pessoas logo irão questionar o que pode ser um dos motivos dessa ineficiência: a estabilidade do serviço público. Permanecer décadas com um funcionário preguiçoso, desatualizado e incompetente não parece ser razoável para nenhum negócio que se preze, e também não deveria ser nos serviços públicos. 
         Essa é uma reflexão necessária e importante. Trabalhamos menos do que deveríamos e nos esforçamos muito pouco para buscar excelência, quando muito aquele arroz com feijão pra garantir o ponto do dia. E olhe lá.
         Se a educação pública fosse uma empresa privada ela teria morrido no primeiro dia de vida.

        Caos, porque você trabalha tão pouco?




quinta-feira, 23 de agosto de 2018

Tudo é mal feito
Se é público
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           É curioso ver professores reclamando da péssima qualidade dos serviços públicos. Nós, também executores de serviços públicos, temos uma obrigação especial com relação a isso. Uma obrigação que raramente reconhecemos como nossa, aliás.
            Todos os dias centenas de professores simplesmente não vão trabalhar, e as razões são inúmeras e dos mais variados tipos. Há os que faltam por motivos de saúde, contratempos no trânsito ou acontecimentos de última hora. Mas há também os que simplesmente não vão. Deveriam estar lá, deveriam cumprir seus horários, mas apenas não comparecem. Em via de regra são esses os profissionais que acumulam cargos em duas ou mais instituições de ensino (há exceções, mas são raras) e escolas públicas Estaduais são sempre a última escolha no momento de decidir prioridades. Se é preciso faltar ao trabalho em algum dos empregos, que seja na escola estadual - já que noutros eles são diretores, coordenadores ou apenas recebem muito mais dinheiro e cobranças em colégios particulares.
           Não é preciso nem dizer que o trabalho dos outros profissionais que, por inúmeros motivos não faltam ao serviço, fica profundamente prejudicado. Há uma verdadeira balbúrdia dentro da escola quando mais de três ou quatro deixam de comparecer, por turno, sobrecarregando demais todo o ambiente com o dobro de demandas a cumprir. Três ou quatro é um dia comum numa escola pública estadual, especialmente em periferias de grandes centros com São Paulo (onde estou). E não parece haver nem de longe qualquer solução que resolva isso, ao menos não sem quebrar por dentro velhas mamatas, velhos direitos que sabotam mais do que ajudam em nosso dia a dia.
              O serviço público é, em geral, lugar de gente menos instruída e comprometida com as suas realizações. O convencimento ideológico e bandeiras partidárias falam muito mais alto que a noção de nossas obrigações como servidor, tudo parece sobrepor nossa real função nesse conjunto que é o de servir. Se a escola pública fosse uma empresa da iniciativa privada, já teríamos  falido décadas atrás.


            Caos, porque você falta tanto?




quarta-feira, 22 de agosto de 2018

O número gay
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          Se você tem uma certa idade sabe bem o que esse número pode significar, e especialmente para os meninos ele pode representar um palavrão ou uma ofensa. Ninguém nunca quis que o seu número na sala, por exemplo, fosse 24. Seria um ano inteiro de zoações e um inferno astral constante a cada chamada. Contudo, e é engraçado, hoje essa conotação não tem o mesmo sentido e escárnio de antes. Tenho alunos meninos que são 24 e nem ele, e nem os demais colegas, têm qualquer ideia de qualquer significado depreciativo do termo. Um avanço? Sinceramente não sei.
          Essa geração encara melhor que a minha ser xingado de gay, veado ou coisa parecida. Há uma disseminação maior acerca dos direitos do outro, da compreensão do outro, e tudo isso é muito bom. Estamos bastante longe ideal (é lógico) mas posso garantir que avançamos. Especialmente quando o assunto é auto aceitação. Nem os próprios meninos que já se entendem como gays conhecem exatamente o significado ofensivo do número 24, talvez nunca tenham ouvido falar. E é melhor que assim seja.
        Pensar sobre isso me assustou um pouco, me fez lembrar o quanto fui criado num meio preconceituoso, racista e homofóbico. E, ainda assim, sobrevivi a todos e a tudo. Graças ao bom senso e à observação simplista do mundo (como tudo deve ser, aliás).

           Caos, você é uma bichinha?





terça-feira, 21 de agosto de 2018

Tetra Pak
Imagem relacionada
      Hoje um raio de esperança iluminou minhas inquietações. Vi quase uma centena de alunos se debruçando sobre caixas de leite vazias, tetra pak, de todas as cores e formatos. Abertas e planificadas como uma placa rasa cheia de informações pedindo atenção.
         Isso é escola, eu pensei. Isso é conhecimento!
     Eu não disse nada, imediatamente, e deixei-os investigar cada detalhe, cada imagem e os infindáveis números, nomes e informações contidas numa simples caixinha de leite totalmente aberta. Foi o bastante.
     As aulas transcorreram como há muito esperava, desde que me formei, e trouxeram incontáveis ideias e direcionamentos sobre como abordar cada tema  da vida real matematicamente. Uma caixa, suas medidas, suas siglas, marcas, registros, a textura do alumínio que sempre fica escondido, a interação entre eles como forma de experimentação única. Foi um dia especial.
     No contexto ideal eu teria material e a estrutura necessária para registrar esses experimentos, e incentivo para prosseguir. Mas não. A escola pública sofre pelas repetidas faltas de professores e aulas vagas se acumulam em toneladas, então há o caos, desordem e muito, mas muito barulho. É muito difícil formar um país assim.
      De toda forma, sempre imaginei que boas notícias e acontecimentos especiais viriam em situações adversas como as de hoje, imagino ter encontrado (sem exagero) um caminho específico para o ensino da matemático dentro de escolas públicas e de periferia. Onde tudo falta, material falta e até professores faltam todos os dias. 


        Caos, você falta ao trabalho se não houvesse estabilidade no serviço público?




segunda-feira, 20 de agosto de 2018

É Aprender, idiota!
Não apenas estudar.
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           Hoje o programa Roda Viva, TV Cultura, abordou no centro o tema da Educação. E a questão da aprendizagem e não apenas "estudar" foi tocada de maneira intensa e, a meu ver, correta. Alunos estudam matérias demais, conteúdos demais e aprendem de menos. O resultado, sempre digo aqui, é desânimo, desinteresse e indisciplina dentro do ambiente escolar. Ninguém parece compreender a simplicidade e a grandiosidade desse problema: se você não gosta do que estuda, não aprende. Simples assim.
          Eu (como professor) quebro a cabeça tentando imaginar formas e práticas de criar uma aula interessante, ainda mais sabendo que a minha matéria (matemática) é um baita tédio para a imensa maioria dos alunos - o próprio Roda Viva trouxe a informação aterradora de que 93% dos jovens saem do Ensino Médio sem saberem o  adequado nessa disciplina. É aterrador. É horripilante. E é comigo.
         "Adequado" significa compreender, operar e solucionar questões simples e medianas utilizando a matemática como ferramenta. Vejo todos os dias esse déficit crescer ao longo dos anos escolares, o aluno não estimulado a pensar desde muito cedo não é desafiado, e acumula longas e intermináveis lacunas do saber por inacreditáveis 12 anos de estudos (isso quando não abandona a escola antes mesmo de terminar).
         Aprendemos muito mais fora da escola que dentro dela. Sempre penso nisso. Olho os alunos realizando cálculos e tentando compreender a lição nossa de cada dia e também penso nisso. Qual a solução? Há muitas e boas possíveis. Mas precisamos de boa vontade (não apenas do governo, distante, ausente) e especialmente dos próprios professores e, acima de tudo, dos gestores da escola (nossos chefes). Aí sim estão as viabilidades de estratégias. 
       Nós, o pessoal que esta na linha de frente, professores e gestores de escolar, somos  parte deste problema. E também a possibilidade real de melhoria.
         Caos, você esta entre os 7%?






domingo, 19 de agosto de 2018

sábado, 18 de agosto de 2018

sexta-feira, 17 de agosto de 2018

Só isso.
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           Poucas coisas me deixam mais irritado que professor burro.
           Pronto. Hoje era só isso mesmo.


           Caos? Nada...




quinta-feira, 16 de agosto de 2018

O mundo é melhor escola 
que a própria escola.
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          Esse raciocínio simples sempre me incomodou demais. A escola deveria ser o lugar onde os horizontes se ampliam, onde descobrimos parte significativa do que somos e do que podemos ser. Mas não. Ela é chata, cansativa e pouco estimulante. Todo o resto é indisciplina, tédio e bullying.  
         Pessoalmente aprendi muito mais fora que dentro da escola. É aterrador imaginar que tudo o que entendi e me interessei sobre geopolítica, história e arte/cultura aconteceu do lado externo dos muros escolares. O mesmo se deu com a matemática, aquilo que curiosamente hoje paga minhas contas. A universidade e o porre de todas as aulas contribuíram em muito para que exercitasse o máximo que pudesse como não ser um pé no saco. Se não sou o melhor professor, ao menos tento não me parecer com nenhum dos que eu tive ao longo da vida.
         O conhecimento teórico é aborrecedor, a vida é muito mais colorida. As lições são horríveis, o mundo lá fora é encantador. A realidade em sala de aula entorpece até mesmo os mais dedicados e capazes, o dinamismo das novas tecnologias é atraente, interessante, fascinante. Somos (a escola) exatamente o oposto do significado de "legal". Procure no dicionário a palavra porre e lá estará uma foto nossa, repetindo a cantinela de que estudar é importante, blá-blá-blá. 
         Escola, professores e gestores precisam urgentemente compreender qual deve ser a escola moderna e eficiente, ou todos perderemos os nossos empregos em breve.
         Caos, os alunos estão todos na porta de entrada da escola fazendo greve. Querem que que gente saia.






quarta-feira, 15 de agosto de 2018

idêntico
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          Hoje um aluno me perguntou como se escrevia a palavra idêntico, dentro de um contexto específico, quando estudávamos semelhanças entre figuras geométricas. Comecei a refletir sobre a estranheza das palavras, seus sons, formas opostas de escrita, os acentos e todas as suas nuances. Me lembrei de ter esse mesmo pensamento aos 7 anos de idade, ainda na primeira série - lá nos anos de 1980 - especialmente sobre a palavra muito.
         Muito, para mim, tinha um som estranho e esquisito. Nunca entendi porque a letra i tinha som de n ou m. Duvidei completamente de um colega quando me ajudou a escrever, olhei a grafia, relutei, mas por fim me deixei convencer. Mas até hoje, honestamente, ainda considero essa uma das palavras mais toscas e discrepantes entre escrita e pronúncia. 
        Na aula seguinte outra aluna quis saber se escrevia a palavra ouro com L ou com U mesmo. São essas as dúvidas simples que preenchem o dia a dia deste que vos escreve. Mas, para mim, a todo momento o mais surpreendente é lembrar que esses seres pequenos têm um longo caminho pela frente, e que dependem de nós para "preencher" os espaços com informações e inspirações da melhor forma possível.

         Caos, você não usa acento?





domingo, 12 de agosto de 2018

sábado, 11 de agosto de 2018

sexta-feira, 10 de agosto de 2018

Escola é depósito de pequenos seres humanos  em desenvolvimento
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                    Reunião de pais em escola pública de periferia é sempre uma combinação inóspita de pessoas simples, apressadas e desinteressadas. Já entram avisando que têm pressa, que estão indo para o trabalho ou que estão no meio dele. A maioria querem apenas "assinar" a lista de presença. Na maioria das vezes evito longas divagações acerca das necessidades dos alunos (seus filhos) e tento ser o mais sucinto e objetivo possível, tentando tirar deles o que é realmente possível: consciência.
              Nenhum pai ou mãe fica insensível quando o professor argumenta que seus filhos são outras pessoas quando estão longe da casa e do olhar condenatório de seus responsáveis. Posso sentir o frio na espinha de cada pai, mãe, avô e avó me olhando nesse momento. Eu então tenho a atenção plena pelos próximos minutos. É tudo o que preciso para criar um vínculo e conquistar confiança e cumplicidade. 
             Não temos verbas, não temos equipamentos, nem banheiros decentes, nem alimentação decente (somos o Estado mais rico da nação, é sempre bom lembrar) e não temos nem mesmo famílias conscientes que saibam o quê, onde e como cobrar melhorias; os seus direitos mais básicos. Temos o caos à nossa volta tomando tudo, nos abraçando dia após dia. Outras duas alunas estão grávidas nesse semestre, nada podemos fazer quanto ao esclarecimento de meninos e meninas sobre a proteção sexual de forma incisiva. Menos ainda sobre drogas lícitas e ilícitas. Qualquer profissional que tente, por mais bem intencionado que esteja, seria rapidamente acusado de incentivo, incitação ou apologia. E é por isso  que o pouco de atenção que conquisto numa reunião, mesmo que por cinco ou seis minutos, é extremamente valioso e importante. E eu os uso com eloquentes pedidos de parceria, vigilância e participação na vida escolar desses pequenos.
           Na saída, é comum pais, mães e avós pedindo meu telefone pessoal para contato direto. Querem estar mais perto da educação dos filhos, apesar da pressa.


            Caos, escola é importante para você? 



quinta-feira, 9 de agosto de 2018

Teatro nem é tão importante assim...

         Estive duas vezes no teatro na última semana, foram peças interessantes com famosos nome da dramaturgia nacional e preços realmente acessíveis (paguei menos que meia entrada pelo par de ingresso). Contudo, é aterrador notar a completa ausência de pessoas negras nessas plateias. Minto, havia sim aqui e ali, mas eram pessoas trabalhando ora na limpeza, ora na bilheteria e segurança do lugar. 
         Poucas coisas evidenciam tanto a exclusão racial quanto situações assim. Em tese, não haveria razão para não haver negros no espetáculo, as entradas eram extremamente baratas, o acesso é livre e irrestrito, qualquer um poderia entrar. Todavia, há ainda uma barreira social e/ou cultural que os impede de ascender também à uma rotina erudita. Não há nesse público alvo o interesse e/ou conhecimento acerca da sua importância. Pior: tudo o que se faz é alimentar o estereótipo de que refino e sofisticação pertencem apenas a um determinado perfil da sociedade (especificamente onde os negros não estão).
        Como professor da rede pública, pobre, assalariado, mas ainda assim branco, reconheço que passo batido nesses lugares sem ser notado. Não sei como é estar na pele de uma pessoa negra e de repente se tornar o alvo de todos os olhares. Mesmo assim isso tudo me deprime. Do lado de fora de ambos os teatros (um num shopping center sofisticado e outro no Centro Cultural Banco Brasil-SP) pessoas de todas as cores e etnias circulavam tranquilamente. Dentro da casa de espetáculo, porém, uma predominância caucasiana incomodou este que vos fala.
          Nos dias seguintes expus aos alunos minha experiência e frustração, muitos meninos e meninas negras me ouviram, outros tantos pardos, indígenas e brancos também. Nenhum deles jamais frequentou um espetáculo teatral (eles têm entre 11 e 15 anos) nem seus pais, e nem os pais de seus pais. A maioria não terá qualquer chance se nada for feito, se tudo continuar como esta e a mesmice sobreviver. Ouviram-me atenciosos, educados e compreensivos (tenho a sorte de ter alunos muito inteligentes e dedicados) mas é certo que a maioria não entendeu nada da minha angústia. Isso é coisa de velho que tenta conscientizar o jovem pelo tempo perdido. Às vezes tudo isso me parece em vão, isso sim.
          O caminho a ser percorrido é longo, demasiado cansativo e delicado. Requer uma capacidade inacreditável de boa vontade política, de demagogia zero e de consciência plena. De conhecimento e reconhecimento étnico, social, educacional, de amor próprio. Uma dívida histórica que levaremos ainda alguns séculos para pagar.


          Caos, qual a sua cor?





quarta-feira, 8 de agosto de 2018

Geração Smarphone
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        Hoje uma professora desabafou sobre o descaso de muitos alunos. O desinteresse e a completa falta de compromisso com os estudos de parte significativa dos estudantes é abissal.
       Vivemos tempos de  alguma fartura e conforto, se compararmos ao passado terrível do nosso país, mas nada disso se transforma em melhoria dos índices, em aprendizado ou mesmo comprometimento desses jovens e suas famílias com os estudos. Pelo contrário, avançamos muito pouco ou nada realmente.
        Atualmente alunos da rede estadual (especificamente SP) recebem um kit de material escolar completo no começo do ano letivo, algo completamente impensável em décadas passadas, quando a miséria e a evasão escolar eram absurdas. Recebem, ainda, livros específicos e uma apostila para cada disciplina a ser estudada. A quantidade de material (pelo menos em papel) é grande e suficiente para pelo menos começarmos. Contudo, há ainda o desinteresse. O conteúdo é tedioso, chato e não inspira interesse. 
        Boa parte dessa "culpa", se é que se pode assim chamar o problema, é também dos professores. Aulas cansativas, abordagens enfadonhas e regras que visam apenas punir, controlar e conter, tornam tudo ainda mais fastioso. Na era da tecnologia e da informação é surreal exigir que crianças e adolescentes permaneçam sentados 5 ou 6 horas quietos, calados, copiando lições da lousa e preenchendo páginas e mais páginas do caderno (lembremos que isso sempre foi chato, desde a minha época nos anos 80, e continuará sendo).
       Se nesses mesmos anos 80 não tínhamos salas de vídeo, sala de informática e material escolar entregue pelo Estado no começo de cada ano, é bom lembrar que havia muito menos escolas do que há hoje. E a exclusão escolar era gigantesca. Sem falar da evasão,repetência e por aí vai...
       Vivemos tempos realmente difíceis, a violência e o fascínio das drogas, as distrações tecnológicas, tudo e muito mais impedem-nos de convencê-os de que aprender é importante, é bom, é prazeroso. E aprender, além de tudo, é melhor e mais importante que estudar simplesmente.

        Caos, o que você aprendeu sobre a vida hoje?


terça-feira, 7 de agosto de 2018

Os motivos de estudar

             Hoje uma aluna pequenina veio perguntar se eu poderia ajudar sua mãe com alguns exercícios de matemática, se possível, já que ela estava tentando se preparar para um concurso público onde o grau máximo de escolaridade exigido era o Ensino Médio. A aluna é um doce, educada, gentil, centrada e ajuda os colegas sempre que pode, e foi com essa mesma doçura e educação que veio a mim pedindo ajuda. Ainda não tive a oportunidade de conhecer sua mãe, apesar das inúmeras reuniões de pais, e não sei também se foi ela quem pediu que viesse até mim, mas é lógico que aceitei o pedido de auxílio sem pensar muito. Na imensa maioria das vezes uma pequena ajuda com conteúdos muito simples já é o bastante para fazê-los. 
             Sentei em minha mesa e fiquei pensando uns instantes: somos um país fragmentado, temos um déficit educacional horroroso no passado e uma situação atual deplorável. Nada indica que as coisas vão melhorar (os banheiros das escolas são um símbolo e tanto disso, se você quiser observar como o Estado determina que jovens e crianças devem ser tratados em momentos tão íntimos e pessoais como simplesmente usar o toalete).
               Quem estuda pouco ganha pouco, quem estuda mais ganha mais (ou, pelo menos tem maiores chances e oportunidades). E é óbvia e clara a relação direta que os estudos têm sobre a trajetória das pessoas. Em escola pública isso é bem comum, esses pedidos de auxílio feitos por parentes de alunos, tanto quanto o desinteresse e cansaço de outros alunos pela escola. 
            Todo esse cenário é por demais comovente para mim. Pais, filhos e filhas tentando melhorar de vida, vivendo a certeza de que o domínio sobre alguns números, cálculos e regras geométricas, o conhecimento das línguas, a sabedoria contida em alguns livros, pode e deverá certamente melhorar suas vidas. 
            Viver o dia na periferia, em escolas de periferia, não me deixa esquecer nenhum minuto de onde eu vim, o que eu sou e qual a minha vocação. Dar aula é o que eu sei fazer. Pais, filhos, alunos e afins. É maravilhoso olhar em volta e saber que você esta onde sempre quis estar.

            Caos, você precisa de um reforço aí?            

segunda-feira, 6 de agosto de 2018

Realidade

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                    Hoje entrei no banheiro masculino dos alunos, um pequeno instante foi necessário para notar a velha desolação de sempre. Banheiros públicos são, em vias de regra, lugares terríveis de convivência. Principalmente em lugares mais pobres. Crianças, jovens e adolescentes desde muito cedo percebem a qual mundo pertencem, ao mundo do descaso e abandono, sujeira disfarçada, depredação e horror num ambiente sempre deprimente. Pobres desde pequenos são condicionados a isso, como que de propósito, como se nos dissessem de onde viemos e nos lembrassem onde deveríamos ficar para sempre. 
                  Do outro lado da cidade, em shoppings centers de luxo, em cinemas caros, há mármore, espelhos e louça de primeira. Ninguém se importa mesmo com a coisa pública, este é o fato. Especialmente quando é para servir uma população já sofrida e que sabe tão pouco sobre seus direitos. É apenas um banheiro. É tudo. É o que realmente importa.


                 Caos, número 1 ou número 2?





domingo, 5 de agosto de 2018

                            Hoje não tem aula!
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sábado, 4 de agosto de 2018



Hoje não tem aula!

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sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Zero à esquerda

          A matemática ensinada nas escolas é burra, pouco intuitiva e formatada em moldes pouco inteligíveis. Na periferia a matemática é objetiva, rápida e sucinta. E os alunos precisam desse tipo de abordagem (tais como medições,contagem prática, mensurações objetivas, etc). Como professor e como ex aluno dessa mesma escola do Estado reconheço e vejo por dentro todas as dificuldades, especialmente quanto ao espaço para trabalhar e agir. Somos orientados e praticamente intimados a cumprir "metas", atingir números e índices, alcançar e superar gráficos de anos anteriores. Nos alunos, especificamente, pouco se pensa. Tudo vem mastigado e digerido já desde cima. Pouco ou nada (se o professor for seguir os ritos obrigatórios) se pode fazer quanto a intuição e inventividade. Daí você entende os motivos de a escola pública estadual ser tão ruim, especialmente em Matemática e outras disciplinas em exatas.

                 Caos, qual matemática você gostaria de estudar?







quinta-feira, 2 de agosto de 2018

Sobre as coisas da vida

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                          Segundo dia de volta às aulas.
              Hoje, enquanto conversava numa sala de 5 série (atual 6 ano), estava recomendando que os alunos deixassem a apostila já usada de Matemática em casa, pois logo usaremos a nova para esse início de semestre. Lembrei da imagem aterradora de folhas ao vento, milhões delas sobre as ruas do bairro no entorno da escola, cadernos usados, livros usados, apostilas usadas. Tudo rasgado pelo chão atirados pelos alunos. A maioria entende que esse tipo de material deve ser descartado tão logo termine um bimestre escolar... Então me apressei em dizer que seria bacana guardarem o material à posteridade. Logo suas letras mudariam em muito e, com o passar dos anos, cada rabisco e cada anotação seria como um tesouro redescoberto. Suas próprias assinaturas estariam completamente diferentes, o detalhe de uma vogal, o desenho na contra capa, toda aquela infinidade de datas e lições dizendo algo sobre seu passado, suas histórias contadas em páginas escolares. Eu dizia isso e me sentia um velho chato resmungão buscando neles uma nostalgia que ainda não têm - e nem poderiam ter. Comecei a sentir raiva de mim mesmo enquanto falava (faço isso com bastante frequência) e tentei resumir coisa e outra sobre a magia de carregar e manter sua própria história. Ainda que, hoje, aquilo tudo pudesse parecer chato e um monte de papel riscado.
             Sentei, abri o diário de classe para fazer a chamada e tentei diminuir os auto-insultos que repetia, quando ouvi uma aluna dizendo para outra "estava com saudades dessas conversas sobre a vida". Meu coração se encheu de ternura. Fiquei sem jeito (faço isso com bastante frequência) e não deixei que notasse ter ouvido, um sorriso por dentro me fez notar o quanto subestimamos a capacidade humana de sentir. E sentir, é a única coisa que nos faz realmente diferente de tudo no universo.

PS: essa aluna tem 11 anos de idade.

                 Caos, com qual frequência você costuma conversar sobre a vida?




quarta-feira, 1 de agosto de 2018

Fim de festa

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            Pior que fim de férias e voltar ao batente é notar o quão pouco as coisas mudaram. Barulho, agitação, desordem e alunos falando pelos cotovelos. Mas ainda assim prefiro esse caos organizado que o murmúrio de professor preguiçoso reclamando de tudo. É justo queixar-se dos desacertos, problemas pontuais e questões importantes que atrapalham o nosso trabalho de maneira efetiva, mas, disparar uma metralhadora de resmungos em pleno primeiro dia de aula é de lascar. Nenhum profissional deveria ser obrigado a exercer seu trabalho sob tais situações de assédio. Já me basta o Estado açoitando-me as costas todos os dias indignos dentro da escola.

            Caos, bem vindo de volta!