Chego à escola no primeiro dia de aula. Tudo me parece
novamente um caos. Cinco anos em 5 escolas diferentes. Não tem amizade que
resista a tantas mudanças. Queria seguir lecionando na última escola onde trabalhei
no último ano, tocar os projetos com os antigos alunos (agora eles são antigos),
e visualizar os efeitos do que tentei plantar. Será que teria frutos? Agora não
sei. No fundo, nada disso importa mais.
Me apresento. Cumprimento futuros colegas. Acho a escola
feia. Tudo depredado e sujo. A primeira
impressão de repente vai se tornando a impressão de sempre. Que chato. Eu sou
muito chato e detesto conhecer novas pessoas. Penso que escolhi a profissão
errada. Eu penso nisso exatamente no momento em que cumprimento as pessoas. Não
quero conhece-las, mas é como se eu fosse obrigado isso. Logo serão meus colegas
de rotina, talvez um e outro sejam meus novos amigos. Amigos que desperdiçarei
e deixarei para trás em 1 ano. Triste.
As férias terminaram, professores e alunos se reencontram. Professores
e a alunos se conhecem, se estranham. Todos parecem tão esquisitos, tão sem graça.
Preferia os alunos antigos. Os alunos novos me olham, sei que eles preferiam os
professores antigos também.
Escrevo na lousa, aguardo o silêncio. Ponho meu nome, data e
disciplina. A maioria torce o nariz. Todo ano é igual. Todo ano me mudam de
escola, e todo ano penso em deixar a profissão. Será de propósito que o Estado
faça isso? Teorias da conspiração me cansam.
Os alunos silenciam. Dou boa tarde. Todos respondem
uníssonos, chegam a gritar. Dou um sorriso discreto, conheço aquele ruído. Adoro
5ª séries.
Vai começar tudo de novo. O caos.
Vai começar tudo de novo. O caos.